23/09/2017
O encontro inicial entre Guinga e o Quarteto Carlos Gomes ocorreu como uma das atrações do show comemorativo aos cinquenta anos de carreira do compositor e violonista de Vila Valqueire. A emocionada reação do público (e vimos a mesma coisa acontecer aqui no pequeno palco da Arlequim numa outra apresentação do artista) deixou claro que o formato mereceria uma exploração mais extensa, e daí chegamos a este disco maravilhoso. Parece, na verdade, que esta camada de cordas sempre esteve presente quando ouvimos o violão multifacetado e os sensíveis vocalises do próprio compositor. Aqui ela se materializa enfim.
Dois célebres letristas da música popular brasileira marcam seu lugar desta vez nas páginas impressas, e não nos sulcos fonográficos (se nos permitem o anacronismo). Nei Lopes segue transitando com êxito pela prosa ficcional através de uma coleção de contos fortemente arraigados na topografia e na riqueza etimológica dos subúrbios do Rio de Janeiro e de seus topônimos, seu tema dileto. Em três diferentes títulos, Aldir Blanc, cuja poesia tornou inesquecíveis as melodias de Bosco, Guinga e tantos outros, parte de um universo semelhante para construir sua crônica memorialista.
Não podemos deixar de celebrar o tributo ao grande Maurício Einhorn a cargo de uma extensa geração de artistas que ele inspirou e inspira com sua ativa veia de compositor de temas centrais da Bossa Nova e com seu raríssimo dom de improvisador jazístico expresso em meio às enormes dificuldades do instrumento que adotou, a harmônica de boca.
O catálogo Carambaia nos brinda com mais uma edição inédita em língua portuguesa, como sempre em belíssima apresentação gráfica. Temos aqui um Jules Verne, que, embora fora do universo das grandes viagens, nem por isso se afasta de sua fixação pela amplidão geográfica. Num de seus últimos romances, toma por figura central um milionário norte-americano que, sem herdeiros, deseja legar sua fortuna àquele que se sair vencedor num jogo de tabuleiro por ele idealizado, e cujas casas simbolizam os estados americanos.
As duas traduções de Shakespeare com que encerramos este informativo são dois primores do catálogo da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, da qual a Arlequim é um dos poucos representantes. São edições bilíngues e dotadas de riquíssimas notas de tradução, que em muito incrementam a fruição da leitura de duas obras-primas da dramaturgia.
Em tempo: trezentos e quarenta e dois anos depois, e ainda esperávamos por Godot!
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